04 novembro 2009

Trexo parte II

04 novembro as 22:06


"Você entendeu
o que eu disse?"
Eu balancei a cabeça sem saída.
Seus olhos se esfriaram, a distância retornou.
"Eu estou pensando em Charlie, é claro.
Ele precisa de você. Tome conta de sí mesma - por ele".
Eu afirmei com a cabeça de novo. "Eu vou", eu sussurrei.
Ele pareceu relaxar só um pouco.
"E eu te farei uma promessa em retorno", ele disse.
"Eu prometo que essa será a última
vez que você vai me ver. Eu não vou voltar.

Eu não vou te envolver em nada assim
novamente. Você pode seguir a sua vida sem mais nenhuma interferência da minha
parte. Será como se eu nem existisse".
Meus joelhos devem ter começado a tremer, porque de repente as árvores estavam
crescendo. Eu podia ouvir o sangue pulsando mais rápido que o normal atrás das minhas
orelhas. A voz dele soou muito distante.
Ele sorriu gentilmente. "Não se preocupe. Você é humana - sua memória é como uma
peneira. O tempo curas as feridas para as pessoas da sua espécie".
"E as suas memórias?", eu perguntei. Parecia que havia algo enfiado na minha garganta
como se eu estivesse sufocando.
"Bem" - ele hesitou por um breve segundo - "Eu não vou esquecer. Mas a minha
espécie... nós nos distraímos muito facilmente".
Ele sorriu; o sorriso era tranquilo e não tocou seus olhos.
Ele deu um passo se distanciando de mim. "Isso é tudo, eu suponho. Nós não vamos te
incomodar de novo".
O plural me chamou a atenção. Isso me surpreendeu; eu pensei que era incapaz de me
dar conta de alguma coisa.
"Alice não vai voltar", eu me dei conta. Eu não sei como ele me ouvir - as palavras não
fizeram nenhum som - mas ele pareceu entender.
Ele balançou a cabeça lentamente, sempre olhando pro meu rosto.
"Não. Eles já foram todos embora. Eu fiquei pra trás pra te dizer adeus".
"Alice foi embora?" Minha voz estava vazia de descrença.
"Ela
queria dizer adeus, mas eu convencí ela de que uma despedida limpa seria o
melhor pra você".
Eu estava tonta; era difícil me concentrar. As palavras dele giravam na minha cabeça, e
eu podia opuvir o médico que me atendeu em Phoenix, na primavera passada, enquanto
ele me mostrava os exames de Raio-X Você pode ver aqui que é uma fratura clara os
dedos deles percorriam a figura do meu osso fraturado.
Isso é bom. Significa que vai sarar mais facilmente, mais rapidamente.
Eu tentei respirar normalmente. Eu tentei me concentrar, pra encontrar uma forma
de
sair desse pesadelo.
"Adeus, Bella", ele disse na mesma voz calma, pacífica.
"Espere", eu sufoquei depois das palavras, me inclinando pra ele, esperando que minhas
pernas mortas pudessem me levar em frente.
Eu pensei que ele estava se inclinando pra mim também. Mas as mãos geladas dele
agarraram minha cintura e se colaram nos meus lados. Ele se abaixou, e colou seus
lábios muito rapidamente na minha testa pelo mais breve segundo.
Meus olhos se fecharam.
"Cuide-se", ele respirou, frio contra a minha pele.
Houve uma leve brisa sobrenatural. Meus olhos se abriram. As folhas das árvores
menores tremiam com o vento gentil da sua passagem.
Ele havia ido embora.
Com as pernas tremendo, ignorando o fato de que minhas ações era inúteis, eu o seguí
pela floresta. As evidências dos seus passos desapareceram instantaneamente.
Não haviam pegadas, as folhas estavam paradas de novo, mas eu seguí em frente sem
pensar. Eu não conseguia pensar em mais nada. Se eu parasse de procurar por ele,
estaria acabado.
Amor, vida, sentido... acabados.
Eu caminhei e caminhei. O tempo não fazia sentido enquanto eu me empurrava pelo
solo grosso. Eram horas passando, mas também só segundos. Talvez parecesse que
tempo havia parado porque não importava o quanto eu continuasse seguindo em frente a
floresta sempre parecia igual. Eu comecei a me preocupar em estar viajando em
círculos, um círculo bem pequeno na verdade,mas eu continuava em frente.
Eu tropeçava muito, e, enquanto ia ficando mais e mais escuro, eu comecei a cair
frequentemente também.
Finalmente, eu tropecei me alguma coisa - estava escuro agora, eu não tinha idéia do
que segurou meu pé - e eu fiquei no chão. Eu rolei de lado, pra poder respirar, e me
curvei no solo molhado.
Enquanto eu ficava lá, eu tinha aimpressão de que havia se passado mais tempo do qu
e
eu podia imaginar. Eu nem podia lembrar a quanto tempo a noite havia caído. Era
sempre assim tão escuro aqui durante a noite? Certamente, como era a regra, alguns
raios de lua atravessavam as nuvens, através das rachaduras nas copas das árvores, e
vinha encontrar o chão.
Essa noite não. O céu estava completamente escuro. Talvez não houvesse luz
hoje - um eclipse lunar, uma lua nova.
Uma lua nova. Eu tremí, apesar de não estar frio.

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